A presença do vírus do HPV no sêmen: desafios e a busca por uma solução
Mundialmente, estimam-se 32 milhões de novos casos de verrugas genitais por ano. Desse total, por volta de 1,9 milhão de casos ocorre no Brasil, sendo cerca de 90% associados aos tipos 6 e 11 do HPV. Verrugas genitais estão entre as dez principais causas de procura por serviços de saúde no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Prof. Dr. Carlo Foresta, italiano da universidade de Padova, é o maior estudioso da presença e das consequências do vírus do HPV no sêmen humano. O vírus do papiloma humano é extensamente estudado, e sua infecção comum no mundo todo, mas a atual incidência e seu significado quando presente no esperma ainda é pouco compreendida. Os estudos de Carlo Foresta se iniciaram com a investigação da presença de HPV (por PCR) no liquido seminal de pacientes estocados preventivamente durante tratamento oncológico. Destes 98 pacientes estudados, em 2010, 6,1% apresentavam DNA viral em suas amostras congeladas. Nesta época, pouco se sabia se a presença do HPV no líquido seminal poderia impactar negativamente os resultados da reprodução assistida futura, mas ja se preconizava o estudo da presença do vírus em doadores de sêmen.
Os estudos seguintes do Prof. Carlo demonstraram que indivíduos portadores de verrugas genitais apresentavam em 53.8% seus espermatozóides infectados pelo HPV, e os pacientes inférteis tambem apresentavam taxas de contaminação mais altas que os férteis (infertile patients, 10.2% versus fertile controls, 2.2%), chamando a atenção para o mundo de provável efeito negativo do vírus quando presente nos espermatozóides, principalmente na motilidade seminal. Outros estudos interessantes de Carlo revelaram a presença 7x maior do vírus no semen em homens que apresentavam vida sexual sem preservativo, quando comparados com grupo usuario de camisinha (21% versus 3%).
O alarmante desta história toda é que os próximos trabalhos do laboratório de andrologia de Padova revelarão que os resultados das técnicas de reprodução assistida (FIV/ ICSI) são piores quando os espermatozóides estão infectados pelo vírus e o grande desafio é que os protocolos de sperm wash para se tentar eliminar o vírus (os mesmo utilizados com sucesso para se eliminar o HIV e os vírus da hepatite B e C no esperma), não são completamente eficazes no caso do HPV. Ou seja, já sabemos dos efeitos negativos de sua presença nos espermatozóides, mas não temos tecnologia atual para eliminá-lo. Portanto, nos resta lutar pela permanente conscientização da importância do uso do preservativo.